Joana Monteiro*
Em 2017 assistimos a uma crise sem precedentes no Rio de Janeiro devido ao quadro de calamidade fiscal do estado. O governo atrasou o pagamento dos servidores, parou de pagar todos os seus fornecedores e observou os serviços públicos colapsarem. O acordo de recuperação fiscal, a alta do barril de petróleo e a intervenção federal na área de segurança trouxeram alívio, mas o cenário fiscal ainda é muito crítico e não tende a melhorar nos próximos anos.Nesse contexto não há mais espaço para discutir políticas públicas fundamentadas em fortes aumentos de despesa, como aumento expressivo do efetivo policial ou compras significativas de material e viaturas. É urgente profissionalizar a gestão, definir prioridades e fazer mais com os recursos existentes. E, para isso, não há espaço para achismo nem empirismo. É preciso desenhar políticas baseadas em evidências. Isso implica em usar dados e informações para identificar e priorizar os problemas, escolher políticas cuja efetividade tenha alguma evidência, monitorar a implementação e avaliar seus resultados.
Na área de segurança, isso se traduz em distribuir o efetivo policial entre batalhões e delegacias segundo uma regra que considere as incidências criminais, população e área; identificar ruas e horários com maior incidência de crimes para ser muito preciso e específico na alocação do patrulhamento; analisar as circunstâncias e motivações de homicídio para poder desenhar políticas preventivas; usar tecnologia para fazer supervisão eletrônica; fazer análise de padrões balísticos para facilitar a identificação de autores de crimes; monitorar os indicadores criminais e taxas de elucidação de crimes em reuniões gerenciais; e avaliar o impacto de iniciativas inovadoras, entre muitos outros exemplos.
Implantar uma cultura de uso de dados no Rio de Janeiro é possível. O estado já possui três estruturas que são vitais nesse processo: o Centro Integrado de Comando e Controle, a Diretoria de Informática da Polícia Civil e o Instituto de Segurança Pública. Além disso, possui um Sistema Integrado de Metas, que precisa ser fortalecido e contar com a liderança do governador. Seguir esse caminho requer, hoje, visão e investimento direcionado à produção de informação, ao desenvolvimento de competências profissionais para analisar dados e à criação de estruturas de incentivo para seu uso. Essa é uma agenda silenciosa, mas a única que tem evidências de efetividade.
* Diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública